30/01/2011

Contos em Trechos

Relações de Sangue






Capítulo Um

Eu levava uma vida bem normalzinha até que conheci meu primeiro vampiro. Na verdade, uma vampira. Uma coisinha delicada, do tipo mignon, que logo de cara quebrou o pescoço de dois sujeitos, secou um terceiro e ainda por cima me passou uma cantada. Hum, essa última pode não parecer grande coisa pra você, mas considerando o quão raras eram as cantadas na minha vida de eremita voluntária, que nunca na vida eu tinha levado uma cantada de outra mulher, e muito menos de alguém que vive de chupar sangue dos outros...

Mas acredite, um vampiro traz outro, o primeiro pode demorar, mas depois de algum tempo sua vida fica cheia deles. Opa, a palavra-chave aí é vida. Desde que você continue vivo, bem entendido.

Eu pelo menos continuo. So far, so good, como dizem os anglófonos, “Até aqui, tudo bem”.

Depois da primeira, não demorou muito pra aparecer o segundo.

Eram duas da manhã, pouco mais, pouco menos, e eu lutando contra o sono para continuar vertendo para o inglês um trabalho científico. É o que eu faço para viver. Quer dizer, uma das coisas que faço. Faço de tudo um pouco. Aproveito minha formação em biologia, minha natural facilidade em escrever e um dom para as línguas, e vivo de quebrar o galho de outros que foram menos favorecidos pela natureza nesses quesitos. Traduções de livros-texto, documentários e bulas de remédio, revisões de trabalhos científicos, um servicinho aqui e ali como ghost-writer para médicos e cientistas que acham que uma cultura geral é dispensável se você consegue um título acadêmico alto o suficiente, e vou tocando a vidinha. Não vou ficar rica com isso, mas dá pra viver. Também não é emocionante. O bom da coisa é não ter de sair de casa. Pensando bem, acho que melhor ainda é não ter de enfrentar classe após classe de alunos pentelhos, como fiz durante oito anos de minha vida. Não me arrependo dos anos de docência, mas também não me arrependo de ter largado dessa vida.

Não é normal que eu trabalhe até as duas da manhã. Mas aquela não havia sido uma noite muito normal. O Estevão havia feito uma visita surpresa, acompanhado por uma garrafa de vinho, que ele sozinho bebeu quase toda. Pensei que finalmente ele tivesse desconfiado de que algo não ia bem, e que tinha por fim resolvido vencer seu medo masculino e descobrir se a gente ainda tinha jeito. Na minha opinião não tinha, mas ele não pediu minha opinião, eu não dei, e depois que ele secou a garrafa, a gente terminou fazendo o que mais cedo ou mais tarde até os casais que não estão muito bem fazem. Não é que não fosse bom, mas é que não era bom o suficiente. Não o suficiente pra justificar que eu tivesse de varar a madrugada trabalhando pra compensar o atraso. E se eu não tivesse sido firme, teria agora na minha cama um cara carente que ia acordar de cinco em cinco minutos perguntando por que é que eu ainda não estava lá abraçadinha nele.

Então. Eu estava trabalhando num artigo de arrancar os cabelos. Era algo de ecologia, um experimento com ninhos artificiais, ovos de codorna e corujas de plástico que me pareceu uma das coisas mais estúpidas que eu havia lido em minha vida. Digno do prêmio Ig-Nobel, conhece? Eu não conseguia entender bem o que os autores queriam dizer em português, e desse jeito como é que eu ia conseguir transformar em inglês? Acho que o problema era que os próprios autores não se entendiam uns aos outros, imagine só, eram dez autores! Nunca pensei que houvesse, no mundo inteiro, dez pessoas interessadas em ninhos artificiais, ovos de codorna e corujas de plástico, e quis o acaso que elas existissem, fossem todas brasileiras, se encontrassem e conseguissem escrever um artigo juntas... A vida não é mesmo uma beleza?

Tinha decidido que para a reunião no dia seguinte – não, agora já era naquele mesmo dia – eu não levaria a tradução pronta, como eu tinha prometido antes, mas que pediria aos autores presentes – será que estariam lá os dez? – que me sanassem as dúvidas, deixando claro que, com aquele português assustador, pouca gente ia conseguir entender como as idéias deles eram sensacionais. Ops, saiu sarcástico? É, às vezes não consigo mesmo me controlar.

A campainha soou. Dei um pulo na cadeira e minha bunda doeu. Eu tinha caído sentada uns tempos atrás, aliás na noite em que conheci minha amiga vampira. Se fosse em filme ou livro, esse tipo de coisa não teria acontecido – quem já viu herói cair sentado e ficar semanas dolorido porque aconteceu não-sei-o-quê com a ponta do cóccix? Mas na vida real acontece, e eu ainda estava me recuperando, e com dor na bunda.

Já era estranho alguém tocar a campainha de meu apartamento. Testemunha de Jeová, vendedora de Yakult, gente pedindo caixinha de natal, esse tipo de coisa o porteiro barrava lá embaixo. Meus amigos eram mais do tipo que mandaria e-mail ou telefonaria em vez de visitar, salvo uma exceção. Mas essa costumava entrar pela janela.

Campainha, e ainda por cima às duas da manhã? Bêbado em apartamento errado, só pode. Ou bêbado em apartamento certo, quem sabe o Estevão voltando depois de procurar as chaves do carro durante duas horas antes de decidir que estava bêbado demais para pensar.

Olhei pelo olho mágico. Um homem, e não era o Estevão. Alto. Bonito. Uau! Tocando minha campainha às duas da manhã? Nããão, essas coisas não acontecem comigo. Tinha de ser engano. Ou quem sabe um tarado. Um psicopata. Homem alto chegando na minha casa às duas da manhã era algo que não acontecia comigo desde minha separação, faz... ah, deixa pra lá. De qualquer forma o ex não era tão bonito assim, e era horrível quando ele chegava às duas da manhã.

Mas esse cara parado na frente da minha porta... me fez descobrir que alguns hormônios que há muito pensava extintos ainda estavam bem presentes em meu corpo. E também que eu ainda conseguia reagir como uma adolescente idiota. Recuperei minha compostura.

– Quem é?

– Eu queria falar com a Clara. Maria Clara Baumgarten – a voz podia ser melhor, mas não era feia. Tinha um sotaque leve, de quê, não sei.

E não era engano. Maria Clara Baumgarten sou eu.

– E quem é que quer falar com a Clara? – não basta saber meu nome pra ir entrando na minha casa assim sem mais nem menos.

Ele pareceu hesitar.

– Eu sou... amigo... da Lucila.

Rápida, olhei de novo pelo olho mágico. Idiota, como não tinha reparado antes naquela palidez cadavérica? Alto e bonito daquele jeito, tinha de ter algum defeito. Claro, era vampiro. E pelo visto não tinha comido hoje.

Abri a porta. Não, não sou maluca. Eu estava com raiva, da Lucila, por ficar dando meu endereço sem mais nem menos pra turminha dela. Ela ia ouvir, ah ia...

– Fala.

– Não me convida pra entrar?

– Não – seca, profissional – Fala, o que você quer?

– Bom, desculpa vir assim nessa hora, mas... eu precisava ir pra algum lugar, e... – ou aquele era o primeiro vampiro tímido de que se tem notícia ou ele era muito bom ator.

– Escuta aqui – disse eu, desconfiada – Você não tá querendo um lugar pra passar o dia, não, né? Já vou avisando que eu gosto de ficar com as janelas abertas durante o dia, o sol iluminando tudo, essas coisas. Nada de hospedar vampiro... E além do mais a noite ainda é uma criança, tem muito tempo ainda pra você encontrar um moquifinho legal e bem escuro, um cemiteriozinho dando sopa...

– Não, não, nada disso, me desculpe se não me fiz entender – ele se mexeu, e a linguagem involuntária do corpo berrava “embaraçado!” – Eu preciso de ajuda, e eu achei que você... bom...

– Eu?!? – dei uma risadinha incrédula – Eu ajudando um... vampiro?

– Você tem ajudado a Lucila...

– Pode esquecer. A Lucila é uma coisa, você é outra. Ela é minha amiga. Não sou isca profissional, querido – eu já ia fechando a porta na cara dele.

– Espera, espera, não faz isso, você me entendeu errado de novo...

O telefone tocou naquele momento. Eu não acredito em coincidências. Deixei a porta aberta enquanto ia atender. Já levantei o fone distribuindo porrada.

– Tem um amigo teu aqui. Que história é essa de ficar dando meu endereço pra qualquer vampiro que apareça?

– Filho da puta, ele prometeu que esperava eu ligar antes. Deixa eu falar com ele.

– Nada disso, Lucila, conheço teus truques. Tô aprendendo, sabia? Convido pra entrar porque a dona Lucila quer falar com ele ao telefone, e uma vez aqui dentro ele está livre pra fazer o que quer que vocês tenham planejado, do tipo... já que ela está resistindo ao charme de uma vampira, quem sabe o negócio é um vampiro moreno, alto, bonito e sensual pra apresentá-la às delícias do sangue. Inventa outra, menina.

Ela riu. Ela sempre ria quando eu a chamava de menina. Ela parecia ter uns vinte anos, ou um pouco menos, mas era mais velha do que eu. Quanto, eu ainda não tinha descoberto.

– Acha que eu ia usar um truque desses com você?

– Acho.

Ela riu de novo. Arma boa pra uma vampira, essa risada cristalina que com certeza tinha ajudado a seduzir muitas e muitas de suas vítimas.

– É por isso que eu te adoro. Você é tão esperta... – de repente a voz dela ficou séria – Clara, ajuda o Daniel. Ele está em uma encrenca das boas. Não tem truque nenhum. Ele tá limpo. Não é o mais decente dos caras, mas... – ela hesitou – Bom, eu não gosto muito dos métodos dele, mas pelo menos ele é um daqueles vampiros que não matam as vítimas. Acho que pra você isso conta, né?

Contava, sim. Um vampiro que não é assassino. Essa eu precisava ver.

– Tá legal, Lucila. Vou deixar ele entrar, mas só porque tô confiando em você.

De novo aquela risadinha alucinante.

– Ele não vai fazer nada, Clara, fica tranqüila. Eu expliquei direitinho o que ia acontecer se ele desse uma mordidinha que fosse em você... – e de novo a risada – ... contra a sua vontade, claro.

– Claro – desliguei sem me despedir. Essas piadinhas dela me contrariavam, mais do que eu gostaria de admitir. Hum.

Continua...

Martha Argel



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