19/12/2010

Poemas e seus poetas.

Aqui uma pequena parte dos poetas e poemas favoritos de muitos goticos.......


Versos Íntimos

Augusto dos Anjos


Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!


Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos nasceu no Engenho Pau d'Arco, Paraíba, no dia 20 de abril de 1884. Aprendeu com seu pai, bacharel, as primeiras letras. Fez o curso secundário no Liceu Paraibano, já sendo dado como doentio e nervoso por testemunhos da época. De uma família de proprietários de engenhos, assiste, nos primeiros anos do século XX, à decadência da antiga estrutura latifundiária, substituída pelas grandes usinas. Em 1903, matricula-se na Faculdade de Direito do Recife, formando-se em 1907. Ali teve contato com o trabalho "A Poesia Científica", do professor Martins Junior. Formado em direito, não advogou; vivia de ensinar português. Casou-se, em 04 de julho de 1910, com Ester Fialho. Nesse ano, em conseqüência de desentendimento com o governador, é afastado do cargo de professor do Liceu Paraibano. Muda-se para o Rio de Janeiro e dedica-se ao magistério. Lecionou geografia na Escola Normal, depois Instituto de Educação, e no Ginásio Nacional, depois Colégio Pedro II, sem conseguir ser efetivado como professor. Em 1911, morre prematuramente seu primeiro filho. Em fins de 1913 mudou-se para Leopoldina MG, onde assumiu a direção do grupo escolar e continuou a dar aulas particulares. Seu único livro, "Eu", foi publicado em 1912. Surgido em momento de transição, pouco antes da virada modernista de 1922, é bem representativo do espírito sincrético que prevalecia na época, parnasianismo por alguns aspectos e simbolista por outros. Praticamente ignorado a princípio, quer pelo público, quer pela crítica, esse livro que canta a degenerescência da carne e os limites do humano só alcançou novas edições graças ao empenho de Órris Soares (1884-1964), amigo e biógrafo do autor.

Cético em relação às possibilidades do amor ("Não sou capaz de amar mulher alguma, / Nem há mulher talvez capaz de amar-me"), Augusto dos Anjos fez da obsessão com o próprio "eu" o centro do seu pensamento. Não raro, o amor se converte em ódio, as coisas despertam nojo e tudo é egoísmo e angústia em seu livro patético ("Ai! Um urubu pousou na minha sorte"). A vida e suas facetas, para o poeta que aspira à morte e à anulação de sua pessoa, reduzem-se a combinações de elementos químicos, forças obscuras, fatalidades de leis físicas e biológicas, decomposições de moléculas. Tal materialismo, longe de aplacar sua angústia, sedimentou-lhe o amargo pessimismo ("Tome, doutor, essa tesoura e corte / Minha singularíssima pessoa"). Ao asco de volúpia e à inapetência para o prazer contrapõe-se porém um veemente desejo de conhecer outros mundos, outras plagas, onde a força dos instintos não cerceie os vôos da alma ("Quero, arrancado das prisões carnais, / Viver na luz dos astros imortais").

A métrica rígida, a cadência musical, as aliterações e rimas preciosas dos versos fundiram-se ao esdrúxulo vocabulário extraído da área científica para fazer do "Eu" — desde 1919 constantemente reeditado como "Eu e outras poesias" — um livro que sobrevive, antes de tudo, pelo rigor da forma. Com o tempo, Augusto dos Anjos tornou-se um dos poetas mais lidos do país, sobrevivendo às mutações da cultura e a seus diversos modismos como um fenômeno incomum de aceitação popular. Vitimado pela pneumonia aos trinta anos de idade, morreu em Leopoldina em 12 de novembro de 1914.


O poema acima foi incluído no livro "
Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século", organizado por Ítalo Moriconi para a Editora Objetiva - Rio de Janeiro, 2001, pág. 61.


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Glória moribunda (fragmento) Alvares de Azevedo


É uma visão medonha uma caveira?
Não tremas de pavor, ergue-a do lodo.
Foi a cabeça ardente de um poeta,
Outrora à sombra dos cabelos loiros,
Quando o reflexo do viver fogoso
Ali dentro animava o pensamento,
Esta fronte era bela. Aqui nas faces
Formosa palidez cobria o rosto...
Nessas órbitas?ocas, denegridas! ?
Como era puro seu olhar sombrio!


Agora tudo é cinza. Resta apenas
A caveira que a alma em si guardava,
Como a concha no mar encerra a pérola,
Como a caçoula a mirra incandescente.


Tu outrora talvez desses-lhe um beijo;
Por que repugnas levantá-la agora?
Olha-a comigo! Que espaçosa fronte!
Quanta vida ali dentro fermentava,
Como a seiva nos ramos do arvoredo!
E a sede em fogo das idéias vivas
Onde está? onde foi? Essa alma errante
Que um dia no viver passou cantando,
Como canta na treva um vagabundo,
Perdeu-se acaso no sombrio vento,
Como noturna lâmpada, apagou-se?
E a centelha da vida, o eletrismo
Que as fibras tremulantes agitava
Morreu para animar futuras vidas?

18/12/2010

DROGAS: CARETA, ALTERNATIVO, PESSOAL OU SOCIAL?



Hoje, ninguém se torna mais ou menos “alternativo” por usar ou não usar drogas ilícitas, da mesma forma que usar drogas lícitas como álcool ou cigarro não tem significado cultural nem dominante nem alternativo.”

1 - “Meu Nome Não é Johnny”

Não somos ingênuos e sabemos que desde que o mundo existe o ser humano usa as mais diversas substâncias para alterar a consciência, seja culturalmente, religiosamente ou individualmente. Em cada época da história tais substâncias tiveram papéis diferentes: as vezes permitidas, outras proibidas, outras libertárias, outras conservadoras. Em nossa época, esse papel é eminentemente (do hedonismo) pessoal e privado, sem significado social “alternativo” em si.

2- Da contestação até a caretice:

Nos anos 60 e 70 do século passado o uso de algumas drogas esteve associada a movimentos de mudança e vanguarda social.

Posteriormente, as mudanças sociais realizadas foram difundidas pela sociedade e absorvidas como novo padrão de comportamento social normal e consumo. Principalmente a partir dos anos 80 e 90

o uso de drogas se tornou algo de conteúdo neutro em várias camadas sociais, se desvinculando de movimentos sociais de mudança.

Simultaneamente cresceram as multinacionais do comércio internacional de drogas, e o tráfico entrou em processo de "profissionalização" e organização de poder paralelos ao estado, (em alguns países chegando a controlar territórios das cidades ou setores do governo).

Já há duas décadas as drogas são uma realidade tanto em diretorias de grandes empresas como na festa funk ou pagode da esquina, tanto nas classes altas quanto nas médias e baixas, tanto na balada comercial quanto em eventos alternativos: não define alternatividade ou “contra-culturas”. Como definimos em outro texto, passa a ser um elemento genérico não valorativo.

3 – Superando o Preconceito:

Até certa altura do século passado as subculturas alternativas eram associadas a criminalidade e contravenção por quem desejava desmerecê-las. Esses críticos e analistas deixavam de lado os aspectos culturais destas.

Posteriormente, o avanço dos estudos sociais desconstruíram este pré-conceito, alguns re-situando as subculturas urbanas nos estudos de identidades culturais, enquanto outros as re-situaram ma análise de consumo. Estudos posteriores fundem as duas questões como complementares.

Paralelamente, o consumo de drogas perdeu sua ligação a comportamentos contestatórios, proliferando por classes ricas, empresariais ou pobres e conservadoras da sociedade.

4- Drogas: escolha pessoal independente do alternativo

Qual seria então, hoje, o significado do antigo discurso “drogas são algo alternativo” em-si? Passa a ser algo totalmente diferente da função social do “sexo, drogas e rock´n´roll” do passado. Temos a embalagem do produto “drogas” em uma embalagem alternativa, sem uma valorização de qualquer coisa “difeerente”de fato.

Quando isso acontece, o estilo alternativo que é “parasitado” por estas estratégias se tornam irrelevantes culturalmente.

Também o tipo de consumidores atraídos por esse tipo de discurso, em geral não tem muito interesse em algo culturalmente alternativo. Vai consumir um simulacro de cultura alternativa da mesma forma que alguém sem ligação cultural a estas cenas que compra uma peruca ou camiseta Gótica ou Punk pela simples aparência destas.

Por outro lado, existem nas subculturas alternativas algumas pessoas que fizeram a escolha pessoal e privada de usar alguma substância que produz dependência química e alteração de consciência. Esta opção madura deve ser respeitada tanto quanto aquela opção da pessoa que em uma cena alternativa opta por não ser usuário de nenhuma droga lícita ou ilícita.

Usar ou não usar drogas: nenhuma das duas opções, hoje, faz com que alguém seja mais ou menos alternativo do que o outro. Hoje, ninguém se torna mais ou menos “alternativo” por usar ou não usar drogas ilícitas, da mesma forma que usar drogas lícitas como álcool ou cigarro não tem- em si- significado cultural nem dominante, nem alternativo.

Continuam a existir as consequências e prazeres pessoais que sempre existiram no consumo destas substâncias. Essa escolha cabe a cada um em sua esfera pessoal e privada, de forma consciente.

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SUBCULTURA GÓTICA: DISVERSIFICADA NO VISUAL E NA MÚSICA


A subcultura gótica é bastante diversificada tanto no visual como nos gêneros musicais. Apesar de alguns estilos musicais terem seu equivalente visual (como comentamos no texto 03- A Homologia Subcultural, sua flexibilidade e evolução), é comum os góticos curtirem diversos dos sub-estilos musicais góticos e usarem diversos tipos de visual. O gótico não se prende sempre a um único tipo de visual ou música, nem as combinações música-visual são fixas ou restritivas.

Neste aspecto, a Gótica é uma das subculturas mais flexíveis e variadas, dentro no seu cânone, como comentamos no texto C) ABSORÇÃO DE ELEMENTOS DE ESTILOS RELACIONADOS :"a criatividade, e um certo nível de "contravenção" em relação ao que é considerado o "visual padrão" de certa época na cena Gótica, é algo geralmente visto como positivo. A herança de princípios do "faça você mesmo" ainda perdura, apesar da proliferação atual de grifes especializadas na estética Gótica."

Você vai ver um gótico com visual mais deathrocker dançando ethereal ou electro-goth, ou uma fada de visual ethereal saltitando ao som de gothic-rock, ou um gótico de visual cyber-goth agitando deathrock ou medieval, e várias outras combinações imagináveis.

Aliás, uma das grandes diversões das cenas góticas pelo mundo é ver como as pessoas misturam as várias sub-tendências de visual gótico, demonstrando sua criatividade pessoal e individualidade. Também muitas pessoas variam de sub-estilo de visual gótico ao longo do tempo, do humor ou... do tempo disponível para se “montar”.

Temos um mostruário parcial de estilos de visual, usando fotos de bandas e de filmes para exemplificar (o que não quer dizer que estas bandas e filmes se restrinjam a estes estilos) nesta página:VISUAIS GÓTICOS.

O legal é ver o visual medieval lado a lado com o cyber e um goth-deathrocker, e o vitoriano ao lado do pos-punk, junto como pessoal "pretinho básico synth-pop" ao lado de um rivet, etc, curtindo vários estilos musicais diferentes e, principalmente, se respeitando.

Vários ramos da árvore Gótica :-)

Não podemos confundir o modelo da subcultura Gótica com o de outras culturas que se prendem a poucas variantes de visual e apenas um gênero musical, como explicamos no texto A MÚSICA NA SUBCULTURA GÓTICA: GÊNEROS MUSICAIS X SUBCULTURAS MUSICAIS.

Confira também uma introdução a variedade de estilos musicais que históricamente apreciados pelos Góticos ou que bandas Góticas usam para se expressar musicalmente, no texto 13- GLOSSÁRIO DE ESTILOS MUSICAIS RELACIONADOS À SUBCULTURA GÓTICA.

OUTROS ASPECTOS:

É mais fácil definir o que não é Gótico do que aquilo que é Gótico, exatamente omo Patrice Bollon, comenta em "A Moral da Máscara", também aborda a questão da recusa ao comentar sistemas estéticos : "Mais do que sistemas de normas, são sistemas de tabus. Podemos dizer o que absolutamente não seriam; mais difícil seria dizer o que são.(...) Seu código...não estabelece uma sensibilidade, um significado, ou uma ideologia; ele delimita um espaço de sensibilidade, uma área de significados, um feixe de atitudes, uma constelação de idéias no interior dos quais todas as modulações são permitidas, ou até requisitadas.(...) A meta foi atingida: criar uma concepção do mundo, circunscrever uma visão passível de evoluções que permitam a expressão pessoal.(...) Com efeito, o que as (modas e culturas) aproxima é que nenhuma delas oferece "respostas" às perguntas: elas se contentam em delimitar espaços onde simplesmente essas perguntas não são mais feitas." (Patrice Bollon, 1990) Ver: (03- A Homologia Subcultural, sua flexibilidade e evolução)

A música e o visual, bem como o comportamento e atitude, constituem um discurso estético, como citamos Durafour: "No seio do movimento (1) gótico, o visual, a dança, as atitudes e as posturas formam uma linguagem estética codificada que concorda com uma nova percepção da corporeidade (conjunto dos traços concretos do corpo como ser social): perceber os corpos como "obra de arte" é reconsiderar seu valor em um mundo onde nossos corpos não nos pertencem mais verdadeiramente." (Durafour, 2005) Ver: D) A TEATRALIZAÇÃO E O CORPO

Dessa forma, também nos "reapropriamos" do nosso corpo em sociedade, ou nos reapropriamos -conscientemente- do discurso de nosso corpo.

21/11/2010

Nina Vamp

Nina Vamp
Essa sou eu!!!